18/11/2009

Olho Tático – Flamengo: ontem e hoje

Direto do Blog Lédio Carmona Futebol & Arte (André Rocha) 
Eduardo Peixoto / Globoesporte.comCom o rubro-negro carioca polarizando a disputa do título brasileiro com o São Paulo nas últimas três rodadas, é natural que o time passe a ser mais observado e comentado por jornalistas, torcedores e profissionais do futebol. E junto com as análises surgem algumas questões que merecem uma contextualização histórica e um olhar mais atento e apurado.
O Flamengo mudou de esquema tático a partir do empate sem gols contra o Internacional. Do 3-5-2 (variando 3-4-1-2 e 3-2-3-2) dos tempos de Joel Santana e mantido por Caio Jr. e Cuca, Andrade passou para o 4-2-2-2 nas vitórias por 3 a 0 sobre Santo André, Sport e Coritiba no Maracanã e efetivou o 4-2-3-1 no “polo aquático” em Porto Alegre (leia mais aqui).


O time de Andrade, no 4-2-3-1 com Pet mais próximo de Adriano.

A definição da formação titular veio no segundo tempo do Fla-Flu, quando Denis Marques, em péssima fase e sacrificado atuando pela esquerda, deu lugar a Willians, com o volante passando a atuar como meia pela direita e Zé Roberto indo para o lado oposto. Com algumas mudanças de nomes em função de desfalques, essa foi a base do Fla que arrancou para a vice-liderança da competição.

Em números, o esquema remete a uma das variações táticas da lendária equipe multicampeã liderada por Zico no início dos anos 1980. O próprio Andrade confirmou isso em sua participação no programa “Bem, Amigos!” do SporTV (confiraaqui).
Vamos aos fatos: a escalação que ficou na memória do torcedor e do apaixonado por futebol, mas que esteve em campo apenas por quatro vezes – sendo a mais marcante e inesquecível nos 3 a 0 sobre o Liverpool pela final do Mundial Interclubes de 1981 – tinha desenho parecido com um 4-1-4-1, com Andrade mais plantado, Tita e Lico pelos lados, Zico pelo centro, Adílio rodando o campo todo e Nunes mais enfiado. Na defesa, os ofensivos e talentosos laterais Leandro e Júnior contavam com a cobertura de Marinho e Mozer, dupla de zaga que garantia o goleiro Raul.


O time que entrou para a história, no 4-1-4-1.

Quando perdia Tita ou Lico, Carpegiani alterava o sistema para uma espécie de 4-2-3-1, com duas alternativas: ou deslocava Leandro para o meio-campo e colocava o voluntarioso lateral Nei Dias pela direita, como na vitória por 2 a 1 sobre o Vasco pela final do Campeonato Estadual de 1981, ou plantava o volante Vítor ao lado de Andrade, esquema utilizado na decisão da Taça GB 1982, 1 a 0 gol aos 45 minutos do segundo tempo de Adílio, que fazia o lado esquerdo do meio-campo e não escondia a sua preferência por atuar mais avançado e pelos lados do campo.



No 4-2-3-1, a variação de Carpegiani.
No Brasileiro de 1983, Carlos Alberto Torres reeditou o esquema com algumas mudanças que deram novo gás a uma geração já envelhecida e que não contava com Andrade, contundido. O jovem Élder entrou no meio ao lado de Vítor, com Adílio agora pelo lado direito, Zico centralizado, Júlio César pela esquerda e Baltazar mais avançado. Assim o Flamengo despertou de uma campanha irregular com uma goleada impiedosa sobre o Corinthians por 5 a 1 e partiu para a conquista, que foi consolidada com incontestáveis 3 a 0 sobre o Santos no Maracanã.


Em 1983, o esquema liberava laterais, Adílio e Zico.

A comparação técnica, de fato, é inviável, pois um time que conseguiu “unificar” os títulos possíveis na época, quando ganhou em abril de 1982 o campeonato brasileiro e passou a ser o último campeão da cidade (Taça GB), Estado, país, continente e planeta, deve ser tratado como exceção. No máximo,a lembrança de que os laterais de hoje também são ofensivos e Petkovic e Zico possuem algumas características semelhantes, além da constatação que Adriano é melhor que Nunes, apesar da importância tática e o poder de decisão do “João Danado”.
No entanto, o paralelo tático é possível e até salutar, em uma reta final na qual se fala muito mais em bastidores, malas de todas as cores, mandos de campo, arbitragens e outros aspectos que fazem parte do mundo do futebol, mas não são o que fizeram do esporte o mais apaixonante do planeta.

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